Livro: Serviço de Urgência de Conceição Queiroz
Recomendo:
SERVIÇO DE URGÊNCIA
Histórias Reais
CONCEIÇÃO QUEIROZ
(...)
Vejo-me mergulhada num mundo que desconhecia. Num mundo à parte, ora meigo, ora violento, turbulento, que a maioria das pessoas desconhece. Aqui tudo acontece a uma velocidade estonteante.
Misturam-se cores, culturas, credos, feitios, pelos corredores sombrios e pelas camas recheadas de doentes. Alguns em fase terminal, outros, acidentados, vítimas de tiroteios, de AVC, de anorexia, de doenças raras, de insuficiência renal.
Vejo mulheres agredidas pelos maridos, sem-abrigo maltratados, doentes de Alzheimer, de sida, de cancro, todos num sofrimento silenciado pelo destino, teimosamente à espera de uma esperança.
Esta é a Urgência onde o tempo nunca chega. Não chega para o médico, muito menos para o doente.
A tempertura desce ainda mais na madrugada em que recolho depoimentos para uma reportagem sobre as glórias e as angústias da Urgência do Hospital de Santa Maria em Lisboa.
(...)
SERVIÇO DE URGÊNCIA
Histórias Reais
CONCEIÇÃO QUEIROZ
(...)
Vejo-me mergulhada num mundo que desconhecia. Num mundo à parte, ora meigo, ora violento, turbulento, que a maioria das pessoas desconhece. Aqui tudo acontece a uma velocidade estonteante.
Misturam-se cores, culturas, credos, feitios, pelos corredores sombrios e pelas camas recheadas de doentes. Alguns em fase terminal, outros, acidentados, vítimas de tiroteios, de AVC, de anorexia, de doenças raras, de insuficiência renal.
Vejo mulheres agredidas pelos maridos, sem-abrigo maltratados, doentes de Alzheimer, de sida, de cancro, todos num sofrimento silenciado pelo destino, teimosamente à espera de uma esperança.
Esta é a Urgência onde o tempo nunca chega. Não chega para o médico, muito menos para o doente.
A tempertura desce ainda mais na madrugada em que recolho depoimentos para uma reportagem sobre as glórias e as angústias da Urgência do Hospital de Santa Maria em Lisboa.
(...)
7 Comments:
A vida num hospital é... pesada(?)
Fiz o meu estágio escolar num hospital, habituei-me ao dia-a-dia como qualquer outra pessoa. Com doentes, médicos, enfermeiros, auxiliares, engenheros, assistentes sociais, etc...
Passados uns meses voltei lá. E senti-me esmagada por um peso imenso. que fazia por não sentir qd lá estava todos os dias. Só aí percebi verdadeiramente a pressão a que todos estão sugeitos
Felizmente foram poucas as vezes que estive numa urgência hospitalar, mas retenho na memória o medo que sufocamos, a dor dos olhares, o cheiro intenso e o "vazio" de um espaço que nos aprisiona.
Intenso este teu texto
Carla
Conheço bem as urgências de Santa Maria e são isso tudo e mais.
Cada um sente ainda mais ou menos, conforme está.
De todas as maneiras não é aconselhável...
Beijocas*
Já passei horas e dias em hospitais, em urgências e outros locais.
È deprimente.
Não conheço o Serviço de Urgência do Sta Maria mas, a ver pelo que se passa no do Hospital de S. Marcos, posso imaginar.
Se não tivesse sido tão doloroso, se mo tivessem contado, não tivesse sido eu a viver este "episódio" que vou contar, dava para rir, pelo caricato, pela perfeita estupidez de quem está atrás daqueles "guichets".
Já lá vão um par de anos grande mas jamais esqueço.
Era necessário ir buscar os "pertences" (assim se referiram , na altura ao telefone) do meu sogro, que havia falecido.
Pedi a um dos grandes amigos da família que me levasse lá para ir buscá-los.
Um mar de gente! Era um fim de noite de domingo, bêbados aos kgs, eu sei lá!
Depois de esperar um pedaço vejo um infeliz sentado. Nem para mim olhava.
-Por favor! Boa noite!- disse-lhe- Venho buscar os objectos pessoais de uma pessoa que acabou de falecer.
Sem olhar para cima: (Isto é autêntico!)
- Só se entrega ao próprio! - eu achei que tinha ouvido mal e perguntei ao meu amigo o que ele tinha dito.
-Peço desculpa. Eu venho buscar os objectos pessoais do meu sogro. Ele faleceu hoje, ao final da tarde. Sou a nora.
- Só se entregam ao próprio! - e aquela besta voltou a dizer aquilo!
Afinal eu tinha ouvido bem.
Tentei manter a calma e debrucei-me para que a figurinha me olhasse e assim, pertinho da cara dele, sussurrei:
- Eu acho que não ouviu o que eu disse, pois não? Eu venho buscar os pertences do meu sogro e ele F-A-L-E-C-E-U hoje, aqui, no hospital, no final da tarde.
- Só estou autorizado a entregar ao próprio...
Saltou-me a tampa, entrei pelo guichet dentro, agarrei o filho da mãe e abanei-o!
- Vai entregar ao próprio? Como, sua besta? Se ele está morto???
Ceguei por completo!
Vieram dois palermoides da Seguritas mas o meu amigo explicou o que se tratava.
Eu estava alteradíssima, porque não dava para acreditar por tão surreal.
Convenci-me que o coisinho devia estar mais bêbado que os pobres que estavam cá fora a vomitar-se todos.
Pois digo-te, não foi ele que me veio entregar, foi um outro funnciário que me veio trazer o saquinho.
Não consegui dizer mais nada.
Tenho a certeza que o Pai Arménio, lá em cima, com o sentido de humor que tinha, se deve ter rido depois, com o meu pai, quando se encontraram, mas, digo-te, Mãezona, naquela hora eu tive vontade de esganar o estafermo!
Há imúmeras queixas, há coisas que não dá sequer para acreditar, que se passam nas Urgências. Está na nossa mão que os serviços melhorem!
Tem que melhorar, bolas!
Há que denunciar os desesperos a que se assiste para ver se os Srs Governantes se dignam olhar para baixo. Cambada de imbecis!
Vou ver se encontro o livro, ainda que tenha varias amigas enfermeiras a trabalhar nas urgencias e bem sei o que se passa o que elas contam!
Beijo, Meu doce.
Tua fiota,
Cris
É extremamente dura a vida nos hospitais.
Para todos....
Obrigado a todos.
Por experiência visualieiem cada testemunho deste livro a dureza de uma vida nos hospitais, quer para os doentes quer para todos os que por lá trabalham, que diariament se deparam com quadros dantescos e que por vezes tão cansados e impotentes fazem o que a Cris descreve.
Mas há um reverso que poucos conhecem: os que fazem dos hospitais o seu abrigo nocturno.
Em termos literários fazem falta mais livros destes testemunhando uma vida real, nada ficcionada, nada com paninhos quentes e sobretudo com vocabulário acessível a todos. Lamento sim, que neste país os livros sejam tão caros.
Este é da minha filha, mas já fotocopiei para vários que não podem comprar.
Beijos e agora vou já dormir!!!
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